terça-feira, 24 de agosto de 2010

Irlanda Gino: Sinal Vermelho

Irlanda Gino: Sinal Vermelho: "Parou no sinal. Olhou à sua direita e viu um homem que a olhava. Tentou adivinhar aquele olhar. Imaginou-o. O olhar dele era desejo ou sim..."

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Grunhenta, a porca que não queria virar torresmo

Grunhenta, a porca que não queria virar torresmo




Irlanda Silva Gino



Era uma vez uma porca que vivia com mais duas outras no mesmo chiqueiro. A única coisa que fazia era comer e engordar. Ela não vivia feliz naquela prisão. As outras não se importavam, achavam que tendo comida boa bastava para serem felizes. Mas a porca Grunhenta não se conformava com aquele destino. Queria mais, queria correr o mundo, conhecer outros animais da sua espécie, subir ladeira e descer vales, respirar ar puro e comer só o necessário para continuar viva. Não queria ficar obesa.

Um dia quando o seu tratador entrou no chiqueiro para colocar mais ração e água ela se esgueirou devagarinho até a saída e, aproveitando-se de um descuido dele, puxou o portão com o focinho e fugiu em disparada. Quando ele a viu, ela já estava longe. Tentou correr atrás, mas Grunhenta foi bem mais rápida e se embrenhou em um bosque. O homem não conseguiu achá-la naquele dia e nos dias que se seguiram.

Grunhenta quando já estava bem longe, cansada e com fome resolveu parar de correr e procurar algo com que se alimentar. Estava feliz com a liberdade e era com prazer que buscava seu alimento. Sentia que aos poucos emagrecia, pois tinha mais disposição para andar, subir ladeiras e correr pelos vales. Ficou até mais bonita. Concretizava seu sonho. Conheceu outros animais de sua espécie e se enamorou por um deles. Teve muitos filhotinhos. Deu liberdade a todos de viverem como bem entendessem. Ficava feliz em correr pelos campos, acompanhada pelo seu amado e pelos filhos. Ensinava a todos o seu ronc...ronc...

Essa era a Grunhenta, a porca sabida e esperta.

Nunca mais apareceu pelos lados onde vivia antigamente e pensava: “eu é que não queria virar torresmo no prato de nenhum homem.”

Quero ser Princesa


Ela se preparava para o seu aniversário. Iria fazer três aninhos. Já sabia mostrar nos dedos. Todos os dias, perguntava à mãe: “faltam quantos dias para o meu aniversário”?

- Ainda faltam alguns dias, a mãe respondia.

Mamãe resolveu indagar o que a menina desejava para esse dia. Ela disse: “quero ser princesa”.

A fada madrinha, sua tia, usou a varinha de condão.

A menina se viu vestida com um vestido azul e branco de cetim, coroa, brincos e gargantilha de pedras azuis. Com o sapatinho de cristal, julgava-se a própria Cinderela.

O salão todo enfeitado, na mesa do bolo, o castelo da princesa. Ela pousava para os fotógrafos.

Na hora de cantar parabéns, o seu príncipe encantado estava ao seu lado vestido de super-herói, bem como papai, mamãe e muitas outras crianças. A mesa estava farta, com bolo, docinhos, bombons e balas gostosas.

Terminada a festa, a princesa trocou de roupa dentro da carruagem que virou abóbora e ela adormeceu profundamente. Estava cansada, numa das mãos, a coroa. Nas mãos de sua mãe, o sapatinho de cristal.

No dia seguinte, quantos presentes para abrir! E o príncipe estava com ela para ajudar.

Foi um lindo sonho que se realizou!

Sinal Vermelho

Parou no sinal. Olhou à sua direita e viu um homem que a olhava. Tentou adivinhar aquele olhar. Imaginou-o.

O olhar dele era desejo ou simplesmente curiosidade? Afinal, seu carro era atraente ao passo que o dele era velho e mal cuidado. Mas o dono não era de se jogar fora, tinha olhos verdes, penetrantes, nuances do mar.

Pensou no sinal, não demoraria acender o verde. Estaria ele com pressa, arrancaria na frente? E por que poderia isso interessá-la? São tantos os homens de olhos bonitos por aí... Mas aqueles eram diferentes e ela sabia que a queriam. Vulcânicos, cheios de calor, olhos que comiam com o olhar, bebiam com o fitar, falavam com o faiscar. Faziam perder a consciência, a noção do certo ou errado.

Mas para que pensar nisso, se aqueles olhos diziam tudo: da poesia que existe entre o céu e a terra, dos sons inebriantes de pássaros na natureza, do desejo incontido que habita a alcova entre lençóis bordados de linho.

Talvez aquele olhar fosse para o vinho do carro, mas ela preferia pensar que era para o branco do seu vestido. Que pudesse com facilidade transpor as barreiras e adivinhar as curvas do seu corpo, entregue a esses loucos pensamentos imaginários e eróticos, que a faziam por alguns instantes, esquecer-se do sinal luminoso.

Estava totalmente entregue à magia. Chegava a senti-lo sentado ao seu lado olhando-a com desejo.

O verde acendeu com toda sua luminosidade, apagando seus sonhos de amor.

Ele arrancou na frente, mas antes lhe lançou um último olhar com uma mensagem que pousou em seus olhos aflitos: “siga-me”. Cheia de emoção, tentou segui-lo, ele virou a primeira à direita.

Desistiu. Quem sabe, algum dia, num outro sinal ela pudesse revê-lo, esperaria que isso acontecesse. O mundo dá muitas voltas, com certeza iriam se encontrar.

Continuou ainda naquele devaneio porque aquele olhar havia penetrado em sua retina, sentado praça para ali ficar eternamente.

Virou a primeira rua à esquerda, abriu os olhos de repente. Na verdade, movimentou-se na cama para o lado esquerdo, seu coração estava acelerado e triste.

Foi tudo um sonho gostoso do qual não queria acordar, mas acordou.